quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Uma Família Ideal

Os pais de Marcos estavam sentados à mesa da sala um do lado do outro. Eles sussurravam algumas palavras um para o outro, nervosos, seus dedos estavam entrelaçados sobre a mesa.
Marcos tinha acabado de descer as escadas, estava de casaco, as mãos enfiadas nos bolsos, chegou pros pais:
-Então, me chamaram pra quê?
Foi a mãe quem começou:
-Marcos, nós achamos que você já tem idade o suficiente pra ouvir o que temos a falar. Nós somos uma família, somos só nós três e nós não devíamos esconder segredos um dos outros.
-Segredos?
-Sim, filho, segredos. E já está na hora de contarmos pra você, porque eu e o sei pai confiamos em você e, acima de tudo, eu e seu pai te amamos, nós te amamos muito, está bem?
-Está…
Esta foi a vez do pai de falar:
-Então, filho… Eu fumo maconha.
O filho pareceu um pouco surpreso, mas quando ele ia falar algo a mãe o interrompeu:
-E eu uso heroína, uso e vendo, filho.
Os olhos de Marcos se arregalaram.
-Ah, filho, e eu sou pedófilo.
-E eu sou necrófila. E tenho uma clínica de aborto no centro da cidade. - Acrescentou a mãe.
Marcos começava a gaguejar quando o pai o interrompeu:
-E eu faço cirurgias ilegais, tipo trocar cor de olho, cirurgia bariátrica sem recomendação médica.
-Marcos, você não é filho do seu pai, você é filho do meu ex-amante.
Marcos finalmente se fez ouvir:
-Como assim você não é meu pai?! - gritou.
-Filho, o Sérgio é seu pai! Pai é quem cria!
-Eu quero conhecer meu pai biológico, e eu nem vou falar sobre as drogas, ou sobre a clínica de abortos ou sobre as cirurgias ilegais, eu quero somente conhecer meu pai biológico.
-Filho... Não dá, a sua mãe o matou.
-O quê?! - berrou e socou a mesa.
-Ele tava me traindo com outra amante, você acredita nisso, Sérgio, como ele pôde me trair com outra amante?
-Realmente, amor, você já teve amantes melhores.
-Continuando, filho, acalme-se. Eu sou assassina de aluguel. E eu fugi do hospício. Ai, que lugarzinho ruim, mas pelo menos as pessoas de lá eram legais.
O filho não conseguia falar nada, apenas gaguejava.
-Marcos, sabe o nosso porão que nunca deixamos você entrar lá alegando que pode ter um vazamento de gás? Então, é uma câmara de tortura para os traficantes concorrentes, e para nossos inimigos em geral. Nós somos os líderes de uma gang, uma das gangs mais influentes da cidade.
-Como assim?! Vocês estão brincando comigo, eu não acredito em vocês.
Os pais se entreolharam. A mãe se levantou, saiu da sala por alguns instantes e quando voltou estava com um álbum de fotos na mão. Sentou-se do lado de Marcos e abriu o álbum, começou a apontar para as fotos:
-Essa aqui sou eu na cama com o seu pai, seu pai biológico. - Depois apontou para uma foto com crianças vendadas enfileiradas. - Essas são as algumas das crianças que seu pai abusou sexualmente, mas essa foto é mais antiga, era da época que fazíamos tráfico sexual de crianças. – Apontou para outra foto, da mãe segurando uma seringa. – Essa foi a primeira vez que eu fiz a mistura de cocaína com heroína, a gente chama essa mistura de “speedball”.
-Ah, olha pra essa foto aqui, amor, que saudades. – O pai apontou para uma foto dele e da esposa há alguns anos, estavam segurando sacolas cheias de dinheiro. – Foi nosso primeiro assalto a banco juntos!
-Ah, aqui sou eu no nosso porão prestes a arrancar os dedos de um cara de uma gang inimiga! Ah, e olha só aqui, a abertura da minha clínica de abortos!
-Olha essa aqui, amor! – o pai apontou para uma foto da mãe de costas, ela estava segurando um martelo com ambas as mãos acima da cabeça, ela estava meio inclinada, parecia que estava prestes a martelar algo – Você matando o dono do hospício depois que eu te ajudei a fugir dele! Aquele cretino, você devia ter dado mais marteladas nele.
Marcos estava aterrorizado, mas ele notou uma foto peculiar, quero dizer, peculiar considerando-se o conjunto de fotos.
-Que isso? – Apontou pruma foto na qual um avião estava prestes a bater em um prédio.
-Isso! Filho, então, sabe o atentado das Torres Gêmeas? Nós que organizamos tudo.
-Ah! Um dos nossos melhores trabalhos! – Exclamou a mãe.
-Aqui sou eu com minha segunda família. - Disse o pai ao apontar pra outra foto.
-Segunda família?!
-É, filho, seu pai tem uma segunda família! Ele é casado com outra mulher, mas não se preocupe, você não tem nenhum irmão, não. Ele só está com essa mulher porque ela é dona de uma grande empresa, então quando o seu pai e eu assassinarmos ela a empresa, ou pelo menos parte dela, irá para o seu pai! Eu que tive a ideia! - De repente a mãe se distraiu - Olha essa foto aqui! - Era a mãe e ao fundo um prédio em chamas. - Eu depois de atear fogo a um prédio! Todos acham que foi um mero acidente! - A mãe deixou escapar uma risadinha.
-Você é muito boa, amor. - Disse o pai antes de dar um beijo suave na esposa. - Olhe, amor, aqui sou eu depois de ter fugido da prisão! Não acredito que eu me deixei ser pego.
-Sim, amor, foi descuido seu, mas não irá se repetir.
-Mas vocês são procurados?! Eu sou filho de assassinos procurados!
-Mais respeito, garoto, nós não somos só assassinos, nós somos assassinos em série, incendiários, traficantes, terroristas, fugitivos e muito mais, um pouco de reconhecimento ás vezes é bom, não foi essa a educação que te damos. E nós invadimos a segurança nacional e internacional e apagamos todas as informações sobre nós, não sobrou nada nos computadores deles, além disso estamos perseguindo alguns dos agentes que ficaram mais envolvidos em nossos casos, já eliminamos a maioria, mas depois que eu fui preso nós tomamos precauções em dobro.
-Aqui, amor, você estuprando aquela agente da polícia que tentou me prender uma vez!
-Boas lembranças.
Fecharam o álbum de fotos e se voltaram para o filho.
-Acredita em nós agora?
Marcos estava paralisado.
Os pais estavam preocupados e se entreolharam novamente. O pai se levantou e saiu da sala, voltou com um bolo de papeis. Os pôs em cima da mesa:
-Filho, nós temos um laboratório de pesquisas.
-Pesquisas?
-Sim, pesquisas. - O pai folheava os papais. Até achar um que pareceu lhe agradar. - Aqui, é o relatório do desenvolvimento de um vírus que mata em questão de horas, a pessoa nem sabe que tem algo, até morrer, morte cerebral quase que instantânea. E sabe o melhor? Exames de sangue não mostram sinais desse vírus, conseguir um diagnóstico que aponte a presença desse vírus é extremamente complicado. Nós o desenvolvemos em nosso laboratório, ainda está sendo estudado e aprimorado, mas esperamos que um dia seja a nossa melhor arma biológica. Também produzimos compostos químicos letais e um pouquinho de estudo sobre armas nucleares. - Deu uma pausa, como se esperasse uma resposta do filho. - Vamos lá, Marcos! Eu sei que você adora ciências, é sua matéria favorita! Se você quiser eu posso te mostrar o laboratório! Mas nós teremos que retirar suas digitais com ácido e te sedar primeiro, medidas de segurança. Teríamos que vaciná-lo com algumas vacinas desenvolvidas por nós também.
O garoto continuava sem reação.
-Vou te mostrar algo que você vai gostar! - disse a mãe com felicidade.
Saiu da sala saltitante e voltou rapidamente, trazia alguma coisa enrolada em um pano consigo.
Pôs a coisa na mesa e desenrolou do pano, era uma espécie de adaga.
-Filho, uma das adagas que Jack o Estripador usava para estripar suas vítimas! Incrível, não? É herança de família! Eu sou descendente direta do Jack o Estripador! É tão excitante! Ninguém sabe a identidade real dele, nem mesmo nós, ela se perdeu conforme o tempo, mas a adaga não. Minha avó deu ela pra o meu pai, que a deu pra mim e um dia esta adaga será sua, meu querido! Ela é uma relíquia, um artefato de alto valor sentimental pra mim! Sempre que eu olho pra ela eu me sinto inspirada, eu sei que tem sangue puro correndo em minhas veias. - Lágrimas começaram a escorrer pelo rosto da mãe. - Desculpe, filho, é que eu me emociono. São muitos sentimentos trazidos com essa adaga. Vamos, filho... Segure-a!
Marcos afastou a adaga e olhou pra mãe:
-É impossível que você se sinta orgulhosa com isso tudo.
-Ah, filho! Você logo vai entender.
-Eu já sei o que trazer pra você, Marcos! Esperem um instante!
O pai voltou trazendo um martelo consigo.
-Olhe, o martelo que sua mãe usou pra matar o diretor do hospício! Boas lembranças...
Os pais fizeram uma pausa e por alguns instantes a sala ficou em completo silêncio.
-Filho, nós sabemos que isso tudo pode parecer um pouco assustador, mas nós ainda somos seus pais e nós o amamos acima de tudo, e nós sempre te amaremos acima de tudo, ok? Isso não muda nosso amor por você, nada mudará.
-Ok... E eu acho que eu também não fui completamente honesto com vocês, afinal.
-Pode nos dizer qualquer coisa, filho. - disse a mãe sorrindo.
-Pai, mãe... Eu sou gay.
-O... O q-quê, filho? - gaguejou a mãe.
-O que você está querendo nos dizer exatamente?
-Eu gosto de homens, pai, eu tinha um namorado e tudo, mas eu não tinha coragem de contar pra vocês, mas já que vocês tiveram coragem de contar isso pra mim, eu acho que também tenho coragem pra contar pra vocês.
-Sabe, filho, no hospício eu conheci essa mulher, ela sempre falava o quão mentiroso era o filho dela. E aparentemente não acreditava na existência material de sofás, o que era curioso, mas enfim. Mas ela também falava que por mais que o filho dela fosse um baita mentiroso, era o mentiroso dela, o bebê dela. Chegava a ser assustador. E, filho, como eu gostaria de poder dizer que eu aceito o fato de você ser gay, assim como ela aparentemente aceitava o fato do filho dela ser um mentiroso. Como eu gostaria, filho, mas... Eu não posso.
- Filho meu não é gay. - Completou o pai com raiva.

A mãe segurou a adaga e o pai apertou com força o martelo e os dois olharam com olhos carnívoros pro filho.

Nota do co-criador do blog Kadu: Marcos é o padrasto do Guilherme. PLOT TWIST.

O MISTÉRIO DA PET SHOP - PARTE FINAL

PREPAREM-SE QUE COMEÇOU A PARTE FINAL DA TRILOGIA DE QUATRO DA EMOCIONANTE REDAÇÃO DE PORTUGUÊS: O MISTÉRIO DA PET SHOP

Para você que não leu as partes anteriores: 123, 4 (opa, é esse mesmo...)

Espero que curtam o desfecho...       

        A chefa de polícia teve que esperar por sete horas e meia a loja fechar ao lado de um nerd desequilibrado irritante que fungava o tempo inteiro, ajeitando os óculos e que o nariz sangrava a cada meio minuto, do tipo que é level 160 paladino no “World of Warcraft”, e ainda por cima LeShawna teve de ficar no personagem, ao invés de mandar Arolfino (?) para o espaço.

            Mas estava na hora, e ela estava muito feliz por causa disso. Da próxima vez ela vai mandar outra policial para fazer isso. Talvez a Maria Joana, que era uma maconheira e conseguiria aguentar aquilo numa boa, mas ela não.
            Enfim, todos os bichos já haviam sido guardados, até o papagaio foi colocado de volta na gaiola, e chegou a hora de LeShawna fazer sua parte, conduzindo Aristóteles (?) para o armário do zelador.
            Ao chegar lá, Assurbanipal (?) trancou a porta, olhando para trás, empinando a bunda para a chefa de polícia. Ele se vira, dançando, e num gesto com a mão para trás, abaixa a densidade da luz para o ambiente ficar romântico. No meio da dança, ele desafivela o seu cinto, jogando-o para um canto, e depois vai desabotoando a camisa lentamente, com uma cara... Err... “Sensual”... abrindo o zíper e ficando, rapidamente, completamente nu. LeShawna, enojada, queria terminar aquilo logo, então, o mais rápido que pôde, colocou suas mãos no bolso de seu macacão preto plastificado e pegou sua arma de eletrochoque defensiva e a aplicou nas pequenas partes privadas de Arolfino (?), que caiu no chão de bunda para cima.
            Ela procura, nas roupas jogadas no chão, as chaves e acha, em um bolso das calças de Alistopheu (?), um chaveiro do “Guerra nas Estrelas”. Andando pelos corredores e acendendo todas as luzes no caminho, LeShawna fala no microfone pregado em sua roupa:
            –A raposa está na toca.
            –Quê?! – indagaram, do outro lado, sem entender do que raios LeShawna estava falando, pois até onde eles sabiam, petshop não vendiam raposas.
            –O peixe mordeu a isca.
            –Quê?! – se ouve do outro lado da linha, novamente, pois de novo, até onde sabiam, em petshop também não tinha nenhum “pesque-e-pague”.
            –Eu abri a merda da porta! – gritou LeShawna, e todos entenderam, entrando no estabelecimento com armas e lanternas, do jeito cinematográfico que LeShawna tinha escrito no roteiro.

            *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
            –Eu ouvi alguma coisa... – sussurra Apolo, amedrontado, para Theodoro.

            –Vieram para nos resgatar? – perguntou Theodoro, baixinho, mas sem esconder certa alegria.
            –Que lindo! – emocionou-se Apolo.
            Os dois se viam numa sala escura... Ou melhor, não se viam numa sala escura, onde a única luz acesa era a de uma luminária em cima de uma escrivaninha e, algumas vezes, umas luzes verdes que piscavam. Uma voz vem do outro lado da jaula dos detetives:
            –Não! Não pode ser! E eu que pensei que essa era a certa! O que vou fazer... O que vou fazer?!!! – e começou a choramingar.
            –Não fique assim, tudo vai dar certo! – reconfortou Apolo.
            –Seu imbecil, ele nos sequestrou! Tomara que ele se exploda! – exclamou Theodoro, sussurrando e dando tapas em Apolo para ele se calar.
            –O que você disse? QUE EU ME EXPLODA? VÁ SE FODER, VOCÊ NÃO SABE NADA SOBRE MIM, SEU VIADINHO ESCROTO! – explode o homem misterioso, e logo, silêncio absoluto. Theodoro estranha, quando sente uma picada forte em seu braço esquerdo e logo, não sente mais nada, desmaiando.
            –Theo? – perguntou Apolo, baixinho, tremendo, quando também sentiu a seringa em seu braço e apagou.

            *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
            Avançando pelos corredores, os policiais arrombam qualquer porta que estivesse em seus caminhos, avassaladores. Bem ao estilo Theodoro, o mais alto de todos as derrubava com chutes poderosíssimos. Até que chegaram à última porta, aquela mesma, a última que nossa dupla dinâmica havia arrombado antes de mudarmos o rumo da história para nossa querida heroína, LeShawna. Ela havia sido revestida com uma camada metálica... O policial, inutilmente, tentou arrombar também, mas os ossos de sua perna se fizeram em pedaços e o mesmo caiu de bunda no chão, relembrando bastante Apolo. 

            A chefa de polícia tinha até esquecido que tinha conseguido as chaves com o... Bem, aquele cara. Imediatamente, tirou-as do bolso e abriu a porta, que fez um barulho estrondoso.
            Podia ter feito isso antes, não acha? – resmungou Claudião, conhecido pelo seu codinome “Ratão”, o policial que estava no chão, com dores por toda a perna
LeShawna ignorou o sujeito, caminhou em direção a passagem, que estava toda escura. Inflou o peito, talvez para parecer mais “macho”. Quando todos entraram, a escuridão foi tomada por um grande flash de luz verde. Vários ratos passaram por seus pés, correndo, tentando fugir. 
            Droga! Voltem aqui, seus imundos! – eles ouviram uma voz fina reclamando do fundo da sala. Agora, tudo estava mais claro. Eles viram. Era um homem velho, meio corcunda. Relembrava Prometeu em certos aspectos. 
            Ei, você! O que está fazendo? O que são todas essas jaulas? Aqui é a polícia federal! Mãos para os altos – exclamou “Lebomba”.
            Ah... A polícia! Eles são apenas meus... Bichinhos.
            Todos os policiais apontam suas armas para o esquisitão enquanto LeShawna inspeciona o lugar. Várias gaiolas com animais, a maioria morta, com gosma preta escorrendo de seus orifícios. Poucos, realmente muito poucos, ainda viviam... Mais para o final da sala tinham duas jaulas. Em uma, tinha Marcius, vivinho da silva. Aparentemente, a outra estava vazia, mas quando ela chegou mais perto, foi possível identificar dois corpos empilhados. Eles eram muito familiares. Nossos tão queridos... Theo e Apolo. LeShawna não os havia matado com o carro da Volkswagen! Mas... Eles estariam mortos agora?
            O que é isso?! O que você fez com eles?!
            Se acalme, meu docinho. –disse ele, ajeitando o jaleco branco – Eles estão apenas dormindo. Injetei um Boa-Noite-Cinderela na corrente sanguínea deles, para que eu pudesse melhorar o desempenho da minha experiência, com eles quietos. – os policiais se entreolharam, pensando malícias sexuais. Percebendo a besteira que tinha dito, tentou se corrigir – Ah... Err... Não! Eu sou um médico! Dr. Su Tiam – mais olhares maliciosos.
             Minha experiência era a produção de indivíduos geneticamente iguais, para suprir a perda de meu irmão univitelino. Posso assegurar que tudo que estou fazendo é perfeitamente normal e não há razão para vocês estarem aqui.
            Cara... Você sequestrou essas pessoas... E ainda tá clonando, o que é crime. Venha conosco.
            NUNCA! VOCÊS NÃO ENTENDEM! É MUITO RUIM PARA ALGUÉM PERDER O IRMÃO GÊMEO! PRECISO APERFEIÇOAR A TÉCNICA DE CLONAGEM, PARA ME CLONAR! ESSES MERDINHAS SE DERRETEM TODOS DEPOIS E VIRAM UM TIPO DE COCÔ GOSMENTO! – e assim joga um objeto metálico pesado em uma máquina redonda bem grande, cheia de circuitos sem sentido, em um canto da sala, acertando um botão bem grande, que fez as portas da máquina fecharem e piscarem luzes verdes.
            –O que você fez? – berrou LeShawna, preocupada, quando vários “Theodoros”, “Apolos” e “Marcius” saiam da invenção, todos, ao comando do Dr. Su Tiam, atacaram os policiais, que recuaram, lutando, atirando, batendo aqueles... Aqueles falsários! Aqueles CLONES! LeShawna lutava, tentando passar para o lugar em que o Dr. Tiam estava, socando, chutando e atirando em “Theodoros”, “Apolos” e “Marcius”.
            Ao chegar perto do cientista maluco, ela agarra os cabelos dele e puxa, falando em seu ouvido, entre os dentes:
            –Manda eles pararem! Agora!!!
            –Tudo bem, tudo bem! Chega! Ai! Ai! Ai! Ai! Parem, clones! Ai! – implora ele. Todos os impostores congelaram. – Agora você, imbecil, pare de puxar meus cabelos! – ordenou a LeShawna, que largou, agora apontando uma arma em sua nuca.
            Quando a chefa de polícia durona olhou, esperando ver os seus amigos, ela vê apenas muito sangue. Choramingando, faz ele confessar, enquanto ligava para Prometeu vir ajudá-la:
            –Eu fiz faculdade de biologia em uma universidade da China, estudando clonagem e DNAs em geral, onde fiz aula com o Phd Dr. Simijanhu MuruhMuruh Kái, junto ao meu irmão gêmeo, Fah Kiu II°, que acabou morrendo, anos depois, em uma explosão aleatória no Paquistão, onde havia ido tirar férias com aquela filha da puta da namorada dele, a Pootakêpa Riu. Fiquei muito abalado e, como éramos idênticos, por alguma razão que agora me escapa, resolvi recriá-lo, mas antes que eu possa me clonar, eu tenho que testar em outras pessoas mais normais, para ver se esse erro, essa estúpida data de validade, desaparece.
            –É, a única petshop da Paula Freitas... – ele ouve LeShawna dizer. Vira a cabeça um pouco para trás, para ver de rabo de olho o que raios ela estava fazendo. Ela estava no celular. Desligou. – O quê? – pergunta ela, para o Dr. Su Tiam, pois não tinha ouvido nada...

            *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
            Prometeu chegou com patrulhas e mais patrulhas da polícia, prendendo o asiático Dr. Su Tiam e processando a linha de petshop culpada. Theodoro e Apolo, agora livres, checavam, junto a LeShawna, o local.

            –Quem quer comer uma lechona? – pergunta ela, animada. Os dois recuam. – Não, não é isso que vocês estão pensando, estou falando do prato chileno, ali do Galeto da esquina! – desta vez, os detetives responderam positivamente, pondo-se a andar.
            Felizes de ver aquele caso maluco solucionado, andavam felizmente pela rua, em direção ao restaurante, sentando-se em uma mesa. Pediram o que gostariam de comer e, na mesma hora que a comida chegou e o primeiro pedaço estava sendo colocado na boca de lechona... Desculpe... LeShawna, seu celular toca, obrigando-a a largar o garfo e faca e atendê-lo.
            –Alô? Ah, sim, o Alisteu... Alis... Alistolpho. É, é o balconista que eu tive que dar um choque para me infiltrar. Como? Marca-passos? Morto? Ai, meu Deus, coitado! O quê? Para eu me virar para trás? – ela olha para Theodoro e Apolo, que estão olhando por trás de seu ombro, com os olhos arregalados. Ela desliga o celular e vira para trás. Dois policiais a esperavam. Ela havia sido presa. – Socorro... – implorou ela para os detetives, que continuaram comendo alegremente a lechona. – Filhos da putaaaa! – e sua voz desapareceu.
            –Sabe, Theo, esse caso foi um dos mais complicados que já tivemos que solucionar!
            –Nós não solucionamos porra nenhuma, a Lebom... LeShawna fez todo o nosso trabalho. Aliás, a gente deveria estar ajudando ela, mas isso aqui tá tão bom! – diz Theodoro, levando uma garfada à boca. – Um prazer quase sexual! – completou. Apolo olhou para ele, o estranhando. – Ei, eu disse quase! – e então ele volta a se concentrar na comida.
            Os dois se lembravam como se fosse ontem o que eles tinham passado naquela petshop, mas nem poderiam imaginar o que LeShawna fez para salvá-los, mas mesmo com esses pensamentos profundos (que aliás duraram meia hora), eles terminaram seus pratos antes de ir pagar a fiança de lechona na delegacia... Ops! LeShawna!
            –Sabe, eu tenho um sentimento estranho...
            –O quê, Apolo?
            –Eu sinto que a gente esqueceu de alguma coisa...
            –Impossível.
            –É sério, mas não consigo lembrar o quê..
            –Se você não lembra, é porque não era importante.

            *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
            –Alô-ô? Alguém me tira daqui! – gritava Marcius, a todo pulmão, ainda trancado na jaula do cientista maluco. – Vamos, gente, parem de brincadeira! Eu estou aqui! Há! Há! Muito engraçado, agora me soltem!

            Os últimos policiais que estavam na loja, de headphones, não conseguiam ouvir o coitado. Lacravam a porta, que não deveria ser usada nunca mais, além de a loja inteira estar vedada por um mês inteiro.
            –Já foi engraçado, mas agora estou começando a me preocupar... Socorro...



                                 Fim?

Victor, Kadu e Pedro. Todos os direitos reservados. Theodoro Apolo e LeShawna inc.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O MISTÉRIO DA PET SHOP parte 3

Primeira parte

Segunda parte

Alguns dias depois, a chefa de polícia que havia voltado do hospital a todo vapor, depois de resolver alguns problemas no tribunal e no enterro de Mariazinha, precisava de um bom plano para entrar na petshop maldita da Paula Freitas.
            Quando perguntavam a ela por que eles não, simplesmente, entravam pela porta da frente daquela loja e prendiam todo mundo, já que eles eram a polícia, ela dava a resposta de sempre:
            –Porque é muito mais legal entrar escondido, com um plano bem, bem complicado! – e ela estava certa: é mesmo muito mais legal entrar escondido... – Alô? – ela diz, no telefone, após discar um misterioso número – Oi! E aí, tudo bem? É, tá, acho que você não entendeu muito bem: foi uma pergunta retórica. É, retórica. Sim, eu não esperava que você respondesse, não. É. Escuta só, eu preciso falar uma coisa séria com você. Escondido? No Parque do Lido? Meia-noite hoje? Mas por que tem que ser escondi... É... É, tem razão, vai ser muito mais legal assim... Te vejo lá... Pera! Como devo te chamar? Que tal... Garganta Vermelha? Como assim “nunca gostou de Arquivo X”, é a melhor série de todas! Ok, ok! Que tal... Agente Pê? Não? Um ornitorrinco já tem esse nome? Ah, tá, no programa de TV, sim... Tudo bem então, te vejo lá! Tchau!... Você não desligou! Nãããão! Você! Não, você! Não, você! Não, você! Nã...
            *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
            O relógio-cuco bateu meia-noite e LeShawna, que ainda estava organizando os papéis do dia seguinte como sempre fazia, quando ouve o gongo chamando para tudo o que está fazendo. Era hora. Ela esperou uns 5 minutos para seu velho amigo pensar que ela ainda tinha uma vida social. Depois, ela se levantou e pegou seu casaco, que estava pendurado no encosto de sua cadeira de executiva, pois ainda estava chovendo muito lá fora.
            Era uma tempestade. Relâmpagos, muito vento, e também muita água. LeShawna olhava para o relógio-cuco, que ainda estava batendo meia-noite. Provavelmente tinha dado defeito e ela precisava mandar consertar na manhã seguinte. Esse era um sinal de que o dia que estava por vir seria... Bem... Trabalhoso, pois o mecânico que fazia esse tipo de trabalho (pelo menos o mecânico que ela conhecia e que fazia um precinho bom para a mesma) ficava bem longe. Além do problema, é claro, de ter que convencer alguém a levar o objeto lá. Sem falar que aquele pequeno contratempo poderia resultar em muitos compromissos atrasados da polícia federal.
            Aquele relógio era especial para LeShawna, e vê-lo quebrado dava-lhe uma grande dor no coração. O tal objeto veio em um navio de imigrantes da África para os Estados Unidos, com o primo da amiga da tia da amiga da trisavó de nossa chefa de polícia favorita e, como o primo da amiga da tia da amiga de sua trisavó morreu, o relógio tão especial que ele havia ganhado em um cassino passou para uma amiga sua muito próxima, que três anos depois foi atropelada por um boi com a doença da vaca louca e ficou dois meses no hospital, mas não resistiu. Depois disso, aquela peça bonita de madeira de carvalho passou para a tia da amiga próxima do primo da amiga da tia da amiga da trisavó de LeShawna, a qual, depois da crise econômica estadunidense, precisou começar a vender seu corpo nas ruas. E não digo prostituição, não. Falo de doação de órgãos. Depois de não sobrar nenhum outro órgão interno além de seu coração, ela teve que doá-lo, morrendo logo em seguida de causas desconhecidas. O único objeto que ela havia mantido após se mudar para a caixa de papelão no beco 123 número 4 era o tal relógio-cuco que LeShawna amava. No testamento de Griselina, a tia da amiga do primo da amiga da tia da amiga da trisavó de “Lêlê”, não havia muita coisa. Ela apenas pediu, naquele documento, que seu cérebro também fosse doado junto ao seu último dedão do pé, e que aquele objeto tão especial passasse para uma amiga sua, que vendia o corpo nas ruas. Mas quando digo que ela vendia o corpo, estou falando de prostituição. Depois de contrair AIDS aos 98 anos de vida, Hertelina, a amiga da tia da amiga do primo da amiga da tia da amiga da trisavó de LeShawna, ficou triste e morreu de desgosto, passando aquele objeto louvado para a trisavó de LeShawna que o trouxe para o Brasil fugindo dos mexicanos islâmicos ruivos do Canadá, morrendo aqui mesmo de velhice e passando de geração em geração de sua família.
            Após suas reflexões sobre aquele pedaço de obra-prima, já era meia noite e meia e ela estava bem atrasada para seu encontro com seu velho amigo. Velho amigo, não! Idoso amigo, porque o cara já devia ter uns 70 anos, era uma daquelas pessoas que conseguem assentos preferenciais no metrô, o qual, aliás, anda muito mal hoje em dia.
            O metrô do Rio de Janeiro nunca foi o melhor, mas agora só pode ser palhaçada, porque além de parar no meio do caminho entre as estações, eles sempre atrasam nossa vida. Cobram muito caro mesmo e nós, usuários de metrô, ainda temos que aguentar aquela violazinha tocando a cada estação? Só pode estar de brincadeira, né?!
            Era uma hora da manhã quando LeShawna saiu correndo, atrasada por causa do narrador, para o parque do Lido, pensando:
            “Eu não posso mais me prender a pensamentos aleatórios e reflexões sobre o mundo contemporâneo do jeito que ele é e a globalização, senão a hora passa rápido e você nem percebe. Acho que essa característica foi puxada do meu falecido pai, que era poeta. Um poeta que já havia sido preso umas quatro vezes. Meu pai, Clearance-Z, alegava que os policiais que eram racistas, mas eu sei que poderia ter algo a ver com todo aquele “orégano” que eu achava em lugares aleatórios de casa. Essa parte da minha vida foi muito difícil, pois minha mãe ainda estava tentando matar minha avó para pegar aquele relógio de cuco lindo que eu tenho até hoje, o que a deixava ocupada, de jeito que ela não me daria tanta atenção assim. Na verdade, minha vida inteira foi uma piada até minha adolescência, quando entrei em um Reality Show muito doido em uma ilha deserta, onde arranjei, finalmente, amigos. E não amigos como aquela lagartixa morta que eu tinha aos 5 anos. Amigos de verdade. Ou quase, porque era um Reality Show, então nunca dá para saber realmente quem é seu amigo e quem é uma cobra. Cobras são muito perigosas em florestas, mas mais ainda no Show Business, onde elas podem fazer você perder o emprego e tudo mais. Isso me faz lembrar quando eu tinha 21 anos, que eu resolvi fazer audições para o musical do fantasma da ópera, mas eles não estavam procurando alguém ‘com uma voz tão forte’, disseram. Pera aí...” e olhou no relógio, interrompendo mais uma vez seus profundos pensamentos.
            O relógio de pulso de ouro também era uma coisa muito especial para LeShawna. O acessório já havia sido roubado por sessenta e sete pivetes e mesmo assim conseguia... Desculpe-me, vamos continuar a narrar a história que é interessante...
            Era 1 hora e 40 minutos!
            –Merda! – xingou, e com isso, saiu voada para o local do encontro.
            *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
            LeShawna chegou no local exatamente às 1:51 da manhã, cansada de tanto correr na chuva. Ela estava ensopada, mas a tempestade já havia diminuído um pouco.
            Com esforço, ela tenta pular a grande cerca azul que se estendia por todo o quarteirão, impedindo que as pessoas entrassem lá à noite, com os portões igualmente grandes trancados com cadeados muito fortes. LeShawna precisava de uma aula de pilates. Chega ao chão, olhando à sua volta aquele parque, que tinha um cheiro de bosta de gato, mendigos e ferrugem. Não era o lugar mais agradável do mundo, principalmente à noite, que deixava o lugar extremamente macabro e assustador, com todos aqueles brinquedos, antes cheios de crianças felizes brincando, vazios, sendo movidos pelo vento forte da tempestade, fazendo parecer que havia um fantasma ali, balançando.
            Será que Prometeu manteve sua promessa (Entendeu???!!! Hah!) e esperou, no meio daquela tempestade, LeShawna chegar, atrasada?
            –Lelê? – é quebrado o silêncio, de repente. A chuva para. LeShawna arrepia por ouvir aquela voz grossa no meio daquela noite horrível, mas logo reconhece a voz de pensador e vira-se, exclamando:
            –Prometeu!!!
            Lá estava o tal “Prometeu” (era realmente seu nome), com aquele seu jeito de Gandalf e a cara de tédio de sempre, segurando um guarda-chuva enorme sobre sua cabeça para proteger sua longa barba de mago de ser molhada.
            Abraçaram-se amigavelmente, mas logo voltaram ao normal, pigarreando, como se nada tivesse acontecido, pois Prometeu era o chefe de polícia de todos os departamentos de Copacabana, ou seja, era chefe de polícia da própria chefa de polícia do 69° Departamento, LeShawna, a qual foi até lá se encontrar com o sábio das montanhas porque ele era bom de fazer planos e táticas em geral, e ela precisava de um bom projeto, pois ela não iria entrar na petshop pela porta, do nada. Era muito mais divertido entrar com um estudo complicado das situações.
            –Quer tomar um chá? – convidou Prometeu, cuja casa era do lado do parque, na esquina da Ronald de Carvalho com a Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Ela aceitou.
            *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
            Eram duas horas da manhã quando ela saiu do apartamento de Prometeu, após bolar um bom plano e voltou para a delegacia, pegou as chaves de seu parati azul, saindo para o Humaitá, que é onde ficava sua casa, escutando a músicas gospel na rádio.
            Tudo aquilo estava deixando LeShawna muito cansada e triste. Estava tendo que aguentar essas coisas estressantes sem seus amigos, Theodoro e Apolo, os quais até agora ela não sabia se estavam vivos ou se ela os havia assassinado com aquele carro da Volkswagen. Mas se seus antigos amigos estivessem realmente vivos, quem seriam aqueles que espirraram sangue negro no para-brisa? O que eles queriam? Tudo estava acontecendo muito rápido, confundindo a cabeça de “Lêlê” mais ainda... Como se o caso já não fosse complicado o suficiente.
            LeShawna olha o relógio. Quatro e quinze. Merda!
            *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
            Amanheceu um dia escuro e chuvoso quando LeShawna, que não havia conseguido dormir e, ciente deste fato, voltara para a delegacia e agora, às oito e meia da manhã, deliciava-se com um bom café preto com açúcar em sua escrivaninha. Entram pela porta de vidro coberta com uma persiana do escritório de LeShawna seis policiais. Um alto e magro, um ruivo e baixo, um moreno gordo (que tinha, aliás, um bigode... Err... “Sexy”), uma mulher de cabelos negros e seios fartos, outra que era uma loira burra parecida com a barbie solteira e o irmão de Apolo, que há muito havia brigado com ele. Seu nome era Abel.
            Abel era irmão gêmeo não idêntico do detetive, e os irmãos tinham ficado de mal porque Bel, antiga namorada de Abel, havia, “sem querer, eu juro”, transado com seu irmão. Desde já, os dois, antes tão unidos ou mais do que a dupla dinâmica de detetives Theodoro e Apolo, nunca mais se falaram, e hoje em dia, quando se encontram, trocam olhares psicopáticos. Por uma ironia do destino, acabaram na mesma profissão e, como se isso não fosse ironia o suficiente, acabaram no mesmo departamento de polícia, mas com uma diferença: Abel, mesmo entrando no emprego antes de seu irmão, nunca havia sido promovido, e enquanto Apolo era “major” na “sociedade” da delegacia, seu rejeitado irmão gêmeo incompreendido era um “cabo”, que puxava, o tempo inteiro, o saco do chefe, tentando sempre fazer seu melhor:

            –Senhora, estou aqui, senhora, para fazer qualquer coisa que a senhora quiser, senhora! – disse ele em um tom militar. A essa altura, você já deve ter percebido que eu menti um pouco no texto acima: ele não puxa o saco, ele suga e lambe.
            –Sério mesmo? Qualquer coisa? – perguntou LeShawna, seguida de uma resposta positiva de Abel. Ela sorri feliz e ordena: – Ótimo, leve esse relógio-cuco que está estragado para o meu mecânico favorito no Humaitá. – e entregou para ele o objeto e um pequeno rasgo do papel onde, em letras de médico, havia escrito o endereço.
            –Claro, senhora! Faz... Faz parte da investigação?
            –Não.
            –Erm... Tudo bem... Mas no Humaitá? Precisa mes... – pergunta Abel, com pena de si mesmo e vergonha por ter falado que faria qualquer coisa. Imagine se ele, da próxima vez, tiver um chefe tarado? Bem, antes que ele pudesse terminar “mesmo”, LeShawna interrompe, com os olhos arregalados, neurótica:
            –PRECISA!
            Conformado, o coitado incompreendido do Abel sai da delegacia, arrastado, abrindo o guarda-chuva no caminho.
            –Então... – continuou LeShawna, sem dar muita bola a Abel, que de tanto puxar, esmagar, chupar e acabar com o saco dela, ele ficou cheio.
            Na mesma hora, ouve-se um trovão forte do lado de fora da delegacia, fazendo todos os policiais darem gritinhos de pavor. Assim, entra na sala, novamente, Abel, de cabelos levantados, todo manchado de preto e com as roupas rasgadas, inclusive a cueca.
            –Raios... – foi a única coisa que ele conseguiu dizer antes de cair no chão, destrambelhado. LeShawna procurou pelo relógio-cuco, mas ele havia sido completamente destruído com o trovão.
            –Olho da rua. – disse “Lêlê” para o coitado desmaiado, catando os pedaços de um de seus objetos favoritos.
*          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
            O policial gordo posicionava-se na janela da casa de Marcius, com uma arma, mirando bem na porta do petshop, caso alguma coisa acontecesse. Havia também uma van nas portas do estabelecimento à frente do apartamento, a qual, aliás, não era nem um pouco suspeita, mas do lado de dentro, esperavam policiais pelo sinal de LeShawna, a qual estava, neste momento, entrando pelas portas de vidro do petshop, se esforçando para parecer normal, e dirigindo-se ao balcão, curvando-se sobre ele, deixando seus peitos mais salientes e falando, sedutoramente:
            –Qual o seu nome, chuchu?
            O homem, que parecia um nerd adolescente de filme americano, com a cara e metade de seu pescoço coberto de espinhas e cravos, além de ser super-magro, como se só tivesse comido formigas há anos, agora estava suando muito, tentando manter seu olhar longe do busto oferecido da policial, que tentava seduzir o homem para poder pegar as chaves da petshop para ela e os outros poderem invadir à noite. Respondendo a questão de LeShawna, o nerd gagueja:
            –A...Alistolpho...
            –Alis... Alistolpho? – repetiu LeShawna, franzindo as sobrancelhas, saindo da personagem por um momento, arregalando os olhos, mas logo percebeu seu erro e voltou: - Que nome mais... Exótico, excitante! Adorei. – e fez uma cara erótica, ainda debruçada sobre o balcão. Adalberto (?), ouvindo aquilo pela primeira vez na vida, perguntou:
            –Acha mesmo? – e quando ela sorriu para ele balançando lentamente a cabeça e apertando os olhos, ele começou a ficar feliz e riu, lambendo os aparelhos de um jeito que era para ser sexy.
            –Acho... – confirmou LeShawna, falando de um jeito... Irresistível. – Tem até um bom apelido carinhoso... – e pensando rápido, falou: - “Pho-Pho”.
            A essa altura, quase dava para ver coraçõezinhos flutuando em volta da cabeça de Aristolfo (?), que pensava que estava tendo um sonho lúcido. LeShawna começou a arrastar a ponta do dedo, fazendo movimentos circulares na superfície da mesa:
            –O que você acha de, mais tarde, nos divertirmos um pouco aqui mesmo, na petshop? Você tem as chaves, né? - perguntou ela, de um jeitinho sensual que fez o bolso do Acrisolo (?) crescer, rindo abobalhadamente, dando uma resposta positiva:
            –Claro, eu tenho a chave. A chave que mais tarde vou colocar na fechadura... – e sorriu maleficamente. LeShawna não entendeu a referência sexual e confirmou:
            –Obviamente, senão não daria para você abrir a porta.
            –Não, você não entendeu... Nós vamos ficar até tarde, é só eu guardar o meu pássaro de volta na gaiola. – e voltou a lamber os aparelhos, olhando fixamente para LeShawna, que continuava séria, sem entender:
            –Tudo bem, eu espero...
            –Você ainda não entendeu... Eu quis dizer que a minha “Onix” quer entrar na sua “Cloyster”. – e voltou a lamber seus dentes metálicos.
            LeShawna, que nunca tinha assistido “Pokémon”, aproximou o ouvido da boca do homem, confusa, para ver se não tinha ouvido direito.
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PREPAREM-SE PARA A PARTE FINAL, AMANHÃ, SÓ AQUI NO BLOG MR. STUFF A LOT!!!!

Uuuuhhhhh

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Pô, nada haver

Então, centenas de leitores do blog, vim aqui esclarecer e desabafar uma grande tristeza da minha vida: eu não sei usar acento grave (mais conhecido como crase).

Então tipo assim, eu nunca sei quando eu tenho que usá-lo ou quando eu não tenho que usá-lo. Então eu prefiro nunca usá-lo porque eu acho melhor do que usar em momentos inadequados. Então caso haja algum adorador de acento grave que seja leitor do blog e tenha se sentido ofendido com meus textos desculpa e você tem problemas.

E sei lá, ultimamente as pessoas na internet tem sido muito chatas com quem escreve errado. Claro, a gente vê diversas obscenidades na internet e não tem como não zoar de vez em quando, mas  mesmo assim tem gente que faz tempestade em copo d'água, o que eu acho meio feio, afinal, todo o mundo escreve coisa errada às vezes (um caso que eu acho que se usa acento grave), seja ortográfica ou gramaticalmente, e não é todo mundo que teve acesso a uma (mais um momento que eu não sei se deveria usar ou não o acento grave, mas acho que não) educação de qualidade.

Ou não é todo mundo que liga pro jeito que escreve nas redes sociais/internet de forma geral. Eu conheço pessoas que cometem erros formidáveis na internet, mas quando escrevem redações/cartas/qualquer texto cansei chega de exemplo fora da internet escrevem muito bem.

Acho justo acrescentar pra você que é uma dessas pessoas anti-erros na internet que há diversos erros que todos nós cometemos que nós não estamos nem cientes de que são erros. "Me desculpa", "eu te devo uma, você é demais", são alguns dos muito erros que nós cometemos e que, francamente, não estão errados.

Mas é claro que alguns erros são épicos.



Essa é uma das imagens que mais me fez rir na vida o que é muito tosco, mas ok, tá, vlw.

Nota: "Pô, nada haver isso" ............................................

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O MISTÉRIO DA PET SHOP pt 2

Aqui está a continuação oficial do romance O MISTÉRIO DA PET SHOP. Para vocês que gostaram da primeira parte, aqui está a continuação. Se não gostaram, vão gostar da segunda parte. E pra quem não leu o início da história, já tá na hora de o fazer.
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            Os detetives chegaram à frente do petshop, à meia-noite, e deram a volta pelo gramado escuro que contornava o estabelecimento para entrar pelos fundos. Eles o cruzaram vestidos de preto do pé (sapatos) à cabeça (gorros), iluminando o caminho com lanternas, quando, de repente, o silêncio calmo e sereno da noite é interrompido por um barulho de excremento sendo esmagado.
            –Merda! Literalmente! – berrou Apolo – Meu sapato novo!
            –Cala a boca! – sussurrou Theodoro – Precisamos achar outra entrada SEM-FAZER-BARULHO! – completou cerrando os dentes.
            Os dois continuaram seu caminho pelo gramado verde e molhado de orvalho, por onde Apolo agora arrastava o sapato para ver se o estrume desistia da sua sola.
            –Olha! – exclamou Theo baixinho, apontando para a grade da tubulação do lote.
            Ninguém precisou dizer uma palavra: apenas se entreolharam e decidiram no melhor estilo “pedra, papel e tesoura” quem iria ser o azarado a se espremer pela ventilação. Como sempre, Apolo foi o perdedor e, como consequência, teria de fazer o trabalho sujo. Ele tentou alcançar a entrada, enfiando-se de mau jeito, meio vertical meio horizontal, mas desse jeito seria impossível.
            –É... Muito... Pequeno! – rangeu Apolo, fazendo força para cima. O engraçadinho ainda teve tempo de fazer uma piada infame – Isso foi o que ela disse! – e após uma risadinha, não aguentou segurar e caiu de bunda no chão. Como sempre.
            –Acho que está muito alto... Melhor eu ajudar! – se ofereceu Theodoro para fazer pezinho.
            Theo se agachou e entrelaçou os dedos de sua mão para Apolo, que colocou os pés nas mãos de Theodoro, fazendo força para subir, mas estava difícil. Isso foi o que ela disse. Quando Apolo finalmente conseguiu alcançar, Theodoro sentiu uma coisa nojenta descendo pela sua mão, largando na mesma hora o outro detetive, que, como sempre, caiu de bunda no chão.
            –Que porra é essa?! – exclamou Theo, enojado.
            –Não é porra, é merda... – respondeu Apolo, se recuperando da queda brusca.
            Theodoro começou a esfregar as mãos na parede, limpando o excesso de... Fezes. Trocaram. Agora Theodoro seria o sortudo a subir pela ventilação, entrando na loja e abrindo a tranca da porta da frente por dentro para o outro detetive entrar.
            O petshop estava bem escuro, mas de vez em quando piscavam luzes verdes estranhas. Eles acharam melhor desligar as lanternas, pois se alguém estivesse lá dentro, iria estragar com o plano.
            No escuro, os desengonçados detetives avançavam, tateando, a loja, até que o suspense foi interrompido por um barulho engraçado:
            SQUICK!
            Acenderam as lanternas para ver no que tinham pisado. O chão estava coberto de brinquedos de cães. Avançaram lentamente, tentando arrastar os brinquedos para o lado, sem fazer barulho, mas não funcionou:
            SQUICK!
SQUICK! SQUICK! SQUICK! SQUICK! SQUICK! SQUICK! SQUICK! SQUICK! SQUICK! SQUICK! SQUICK! SQUICK! SQUICK! SQUICK!
            –Bem, o plano de entrar em silêncio acaba de ser arruinado. – resmungou Theodoro, acendendo as luzes após verificar a ausência de funcionários ou qualquer pessoa no recinto. Agora, havia uma porta bloqueando o caminho. Estava trancada. Apolo inflou o peito, cheio de marra, e disse:
            –Dessa vez eu sei qual é a da parada! – estalou os dedos, alongou o pescoço e chutou com sua maior força a porta, que nem se moveu, saindo ilesa, ao contrário do detetive, que caiu de bunda – novamente – no chão, uivando de dor. Theodoro olhou para Apolo, balançou a cabeça num sinal de desaprovação e fez o mesmo que ele: chutou a porta, que cedeu. – Eu amoleci ela para você! – resmungou, sentado no chão, tentando recuperar sua perna.
            –Cala a boca e anda, palhaço. – disse Theodoro de um jeito ameaçador.
            *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
            Lá estava LeShawna, a chefe de polícia, organizando papéis, no meio da noite, em sua sala, porque polícia não é apenas o glamour, a maior parte é burocracia. Por isso que ela, como uma boa trabalhadora, estava adiantando o trabalho do dia seguinte. Bem, LeShawna não tinha mais nada para fazer mesmo: ela não tinha família nem amigos... Ora, amigos apenas aqueles os quais ela havia conhecido em um reality show que participou quando era adolescente, mas esses tempos já tinham acabado. Hoje em dia, ela se diverte arrumando papéis até tarde, sozinha, na delegacia, cuidando da burocracia que teria de lidar no dia seguinte.
            Como Marcius, ela era uma pessoa que se divertia mais sozinha, talvez com seu bicho de estimação. No caso de Marcius, eram Bob e Marley, que já haviam sido entregados ao IBAMA. Já LeShawna tinha uma gata, a Cléo. Cléo era uma gata vira-lata adotada que fingia que era dócil, mas quando fossem acariciá-la, metia as garras no braço do mesmo. Aposto que, de tão feia e colorida, se você olhasse bem de perto, a gata teria até azul em seu pelo. Ou seja, Cléo era chata, sim, mas era sua única amiga, sem contar com os amigos Theodoro e Apolo, que ela via de vez em quando, geralmente no trabalho. Ela ainda lembrava os dias em que ela e Theodoro resolviam casos como parceiros, nos anos 90. Aqueles eram bons tempos, sim, mas ela havia sido promovida para chefe, o que a fez perder todos seus amigos próximos. Agora, ela era uma mulher triste, muito triste, que passava praticamente a vida inteira no escritório – até mesmo nos feriados! – e, quando ia para casa, ficava horas sentada na frente do computador, tentando achar seu par perfeito em sites de relacionamento. Todavia, quem ela realmente gostava era Theo, e relembrava, religiosamente, todo santo dia, as aventuras que eles haviam passado juntos, como uma equipe. Mas agora ele tem Apolo, seu novo melhor amigo, para resolver os casos com ele, e ela não se engana: eles são, realmente, uma dupla dinâmica... Um trapalhão piadista indesejável infame e um homem sério que conseguia resolver qualquer coisa chutando a causa do problema.
            Os pensamentos profundos de LeShawna foram interrompidos por batidas na porta. Quem poderia ser a essa hora? Todos os outros policiais já haviam voltado para suas famílias...
            Para a surpresa de todos, quem estava à porta eram os detetives Theodoro e Apolo, sérios. Confusa, a chefe da polícia, LeShawna, perguntou, pasma, o que raios os dois estavam fazendo ali. A dupla, na mesma hora, ficou nervosa, pensando em uma resposta rápida:
            –Hum... Err... Não... Não tinha nada no petshop! – gaguejou Apolo.
            –Tem certeza? – perguntou ela, desconfiada. Por alguma razão (intuição feminina, talvez), ela sabia que alguma coisa ali não estava certa. Era óbvio que a dupla estava mentindo, mas por quê?
            –Sim! Sim... – falou rápido Theodoro, sem pensar, com os olhos arregalados e cara suspeita.
            À essa hora, a esperta detetive sabia que algo tinha acontecido naquele petshop. Algum tipo de lavagem cerebral, ou algo talvez ainda mais esquisito. Ela não podia acreditar em uma palavra que aqueles homens estranhos estavam falando, porque ela conhecia a dupla Theodoro e Apolo muito bem para saber que aquelas pessoas que estavam em sua sala naquele momento não podiam ser eles. Ou será que eram? O que teria acontecido? LeShawna precisava arranjar um jeito de fazê-los provar que eram aquela dupla que ela gostava tanto. No momento, ela deveria procurar nas suas memórias o comportamento dos dois, como agiam, etc.
            LeShawna sabia que na hora de decidir quem ia se enfiar no esgoto ou algo do tipo, eles sempre decidiam no “pedra, papel e tesoura”, e Apolo sempre perdia. Ela sabia também que para abrir uma porta, bastava Theodoro dar um chute. Agora, se Apolo fosse dar o mesmo chute, machucaria a perna e cairia de bunda no chão. Pensando rápido, ela pede:
            –Minha garganta está... Err... Seca! Algum de vocês queridos poderia ir buscar um copo d’água para a LeShawna? – os detetives, sem nem pensar que ela nunca pediria algo assim, ou se perguntarem por que ela teria falado em 3ª pessoa e os chamado de “queridos” falaram, em coro, de um jeito assustador:
            –É claro. – e foram embora, em fila indiana, buscar o pedido.
            A chefa de polícia, que estava achando aquilo ainda mais estranho, aproveitou o momento que ficou só em seu escritório para trancar a porta do banheiro acoplado à sua sala para dar outra pequena testada em seus detetives favoritos.
            Os dois voltaram, cada um com um copo cheio de água na mão, esperando LeShawna falar alguma coisa.
            –Deixa a água aí... – falou, sem pensar muito – Err... Algum de vocês poderia, por acaso, me ajudar com essa porta?
            Assim, os dois fizeram uma fila para chutar a porta. Theodoro machucou a perna. Apolo arrombou a porta. Isso era impossível e inaceitável. Agora era certo de que alguma coisa havia acontecido com esses dois que foram ao petshop normais e voltaram muito estranhos.
            –Vocês! – gritou ela – Vocês não são Theodoro e Apolo!!! Quem são vocês?! – e quando ela terminou sua pergunta, os dois impostores sacaram suas armas, apontando para ela e falando:
            –Somos nós, não há nada de errado! – e começaram a atirar. Sorte da LeShawna que, mesmo sendo gordinha, é rápida, e já tinha fugido para o corredor a esta hora.
            Os dois saíram correndo atrás dela, sem expressão facial nenhuma. A chefe LeShawna entrou na primeira porta que viu, que era da cantina, se escondendo atrás do bebedouro, no escuro (sorte dela que ela era negra).
            Os perseguidores entraram na cantina, olhando para um lado e para o outro com lanternas, e foram avançando, lentamente, pelo local. Ela se move em direção à gaveta de talheres para pegar alguma arma, nem que seja uma faca, ainda junto à parede.
            LeShawna alcança a gaveta, mas quando a puxa, ela cai, deixando todos os talheres baterem no chão, fazendo um barulho que ecoou pela cantina, o que fez com que os “detetives” corressem em direção à origem do som para pegar a mulher.
            Antes que eles pudessem a alcançar, ela, ainda agachada, foge pelo canto e vai para trás das mesas, contornando a sala e saindo daquele inferno com uma faca bem afiada, por precaução.
            Ela saiu, correndo, desesperada, quase chorando, da delegacia e olhou à sua volta. Era realmente tarde, não havia carros passando e nenhuma pessoa na rua! A outra delegacia estava, provavelmente, igual a essa: vazia, então, enquanto corria, LeShawna tentou ligar, pelo seu celular, para a Central de Emergências, mas estava sem sinal... Parecia até que Deus queria que ela morresse e estava jogando todas as pragas para cima dela, ainda mais que ela morava no Humaitá... Ela precisava ir para qualquer lugar que fosse mais seguro que aquele, então ela optou pela sua casa, já que na outra delegacia não ia ajudar. Ela só precisava pegar uma carona com alguém, pois as chaves do seu Palio estavam em cima de sua escrivaninha, e nem ferrando ela voltava atrás com aqueles assassinos malucos a perseguindo.
            As chances de arranjar uma carona agora eram bem improváveis, ainda mais que hoje em dia ninguém dá mais carona para ninguém. Sim, as chances eram escassas, mas aumentavam se ela estivesse em uma avenida movimentada, por isso ela dirigiu-se, na mesma hora, para uma.
            Enquanto isso, “Theodoro” e “Apolo” saíam da delegacia, percebendo o erro, os dois “detetives” agora corriam mais rápido ainda, tentando alcançar a coitada da LeShawna que, no desespero do momento, sem achar nenhum táxi ou carona, entra em uma concessionária Volkswagen para tentar achar um carro para ela poder dar o fora dali e ir para casa, onde poderia reorganizar os pensamentos e, pela manhã, alertar a polícia e bolar um plano.
            Os impostores viram a esquina e lá está ela, correndo para a concessionária. Eles dobram a velocidade enquanto a mulher entra pela porta de vidro e coloca um cano entre a maçaneta e a parede de vidro, bloqueando o caminho dos “detetives”.
            Enquanto LeShawna tentava achar alguma chave de algum dos tantos carros que lá estavam expostos, “Theodoro” tentava forçar o cano que impedia a porta e “Apolo” batia na imensa parede de vidro que funcionava como uma vitrine para os carros.
            Agora, ela estava testando todas as chaves em todos os carros, do andar de cima e de baixo, correndo para lá e para cá, até que uma das chaves funciona em um deles, um touareg e ela, sem pensar, entra no carro na mesma hora que “Theo” consegue quebrar o cano da porta e entra e ela dá a partida, acelerando e saindo da loja pela grande parede de vidro, quebrando cada pedacinho dela, destruindo tudo e, quem diria, atropelando “Apolo”, metendo a roda bem na cabeça dele, esmagando-a. A quantidade de sangue que saiu de seu cérebro espremido era impressionante e, o mais estranho é que era um sangue negro. Se rodasse a cena em câmera lenta, daria para ver todos os músculos de sua cabeça se partindo e a gosma preta se esparramando pelo asfalto, pelo para-brisa e por todos os lados. Mal sobrou uma cabeça naquele corpo, apenas alguns fiapinhos de pele arrancada e uma parte da coluna vertebral que formava o pescoço. Além de destruir a cabeça do homem, o carro o empurrou para frente e passou com as rodas em sua barriga, que abriu, revelando o intestino, o qual ficou preso na roda do carro e foi completamente arrancado do corpo, levando também alguns outros órgãos ligados a ele. E nem vamos começar a falar do vidro quebrado, que entalhou todo o sujeito.
            O carro não aguentou a pequena queda da plataforma onde ele estava, dentro da loja, e acabou ficando sem freio, fazendo-o bater na parede de um prédio do outro lado da rua da concessionária. LeShawna, cheia de cacos de vidro, no impacto, bateu com a cabeça com força no volante e ficou quase inconsciente. “Theodoro”, que assistiu tudo isso perto da porta, ou seja, longe da confusão, continuava sem expressão alguma. Ele aproximou-se do carro amassado, chegou bem perto da policial e sacou a arma, apontando-a para a mulher, que agora, quase desmaiada, tentava falar alguma coisa, mas sem sucesso. O dedo do homem que sobrou aproxima-se do gatilho lentamente, como se tivesse algum tipo de prazer mórbido em estar fazendo aquilo... Mas não tinha. Ele não tinha sentimentos. Seu rosto continuava sem alguma emoção. Seu dedo encosta no gatilho. Tudo acabou. A investigação acabou sem sucesso. LeShawna, a chefa de polícia solitária vai ter uma morte horrível, com um tiro bem no meio dos olhos. Pelo menos é o que ela pensou na hora...
            Quando o dedo de “Theo” já estava no meio do gatilho, quando tudo estava perdido e LeShawna, com lágrimas nos olhos, já havia desistido da vida, “Theodoro” vomita um líquido viscoso preto na pele negra de LeShawna, que finalmente consegue ter alguma reação e grita, enojada. O homem, depois do incidente grotesco, cai no asfalto de certa forma que sua cabeça se parte em dois, deixando um monte de sangue negro sair.
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            Acordando em um quarto branco e extremamente limpo, LeShawna sabia que havia sobrevivido e que estava em um hospital. Olhou para um lado, havia uma pequena mesinha com um buquê de flores em cima, além de, ao lado da cama onde estava deitada, um monitor medidor de frequência cardíaca e o soro que estava sendo injetado nela. Do outro lado, havia uma janela. Ela levantou e chamou a enfermeira, apertando um botãozinho ao lado da cama.
            A enfermeira chegou e disse a LeShawna que precisava ficar mais algum tempo sob observação médica e, após estas breves palavras, saiu. Mas a danada da LeShawna sabia que não podia esperar muito tempo... Ela precisava saber o que estava acontecendo!
            Ela saiu da cama. Sua cabeça latejava por causa de algum sossega-leão que os médicos haviam injetado nela. LeShawna arrancou todos os fios conectados ao seu corpo e saiu, escondida. No corredor, havia muitos obstáculos, portanto ela voltou e pegou o buquê de flores, colocando-o perto de seu rosto para ninguém a reconhecer. Havia um vento frio subindo pelas vestes de hospital dela, revelando um pouco de sua bunda gordinha. No corredor, sempre que alguém aparecia, ela colocava o buquê na frente de seu rosto. Ela estava pertinho do elevador quando algum médico a reconheceu e gritou:
            –Ei! Volta aqui! - e ele correu em direção à LeShawna, que no momento entrava no elevador e apertava o número do andar. O médico que a perseguia correu bem rápido para conseguir alcançá-la antes que fugisse do hospital, mas bem na hora que ele ia entrar no ascensor, as portas do mesmo se fecharam bem na sua cara, que estalou várias vezes, por causa de seus ossos quebrando enquanto eram empurrados na parede. Como ele ficou meio a meio (meio no andar, meio dentro do elevador), quando o elevador saiu, o corpo do ex-médico foi cortado ao meio, revelando mais sangue ainda. LeShawna, impressionada com toda aquela coisa de músculos descolados pendurados e olhos saindo de suas órbitas, piscou. Quando ela piscou, toda a violência desapareceu. Ela estava alucinando! Devia ser por causa dos calmantes.
            O enfermeiro, que na verdade nunca foi esmagado, só depois, por um travesti, num beco escuro da cidade enquanto voltava para casa, seguiu as regras do hospital, que eram: “Se um (a) paciente maluco(a) fugir do hospital, soe o alarme”.
            As sirenes do hospital começaram a tocar e todos os elevadores pararam, o que foi péssimo para nossa querida personagem, que logo entendeu o que aconteceu e, com medo de ser pega, tenta abrir as portas do ascensor com as próprias mãos. Como LeShawna não era o Hulk, as portas nem se moveram. Ela precisava achar um jeito de sair dali antes que achassem um jeito de tirá-la a força. Lebomba (apelido “carinhoso” dela), lembrando-se das coisas que via nos filmes de ação, olhou para cima e tentou achar a saída de emergência, que nada mais era do que um alçapão no teto do elevador.
            Tentava alcançar, apoiando seu corpo... Carrancudo nos corrimões do elevador, tentando alcançar a saída de emergência, sem antes dar uma checada no espelho e decidindo entrar em uma aula de pilates. Quando ela o fez, teve a visão atormentadora de um poço mais fundo do que o inferno, junto de circuitos e mais circuitos que para ela não faziam sentido algum.
            Olhando a sua volta, ela não consegue achar nenhum tipo de brecha ou tubulação, então todo aquele esforço para subir ali foi em vão. Percebendo isso, pula de volta no elevador, fazendo-o ceder com todo o peso.
            O elevador caiu assustadoramente até o 4° andar do hospital, que foi quando os freios de emergência instalados funcionaram de repente, freando bruscamente o elevador. Foi uma parada violenta, e fez LeShawna voar e bater com as costas nas lâmpadas fluorescentes do teto. Mas mesmo assim, ela, com suas particularidades quase sendo mostradas para o público, como as da Britney Spears, não desmaiou ou desistiu. Após cair de mal jeito no piso do elevador, logo levantou, e foi quando as portas abriram, fazendo o “ding” de sempre de um jeito sarcástico.
            As portas abriram e revelaram que a passagem para o 4° andar era estreita, pois acabou que o ascensor parou bruscamente entre dois andares! LeShawna, sem perder tempo já que o elevador ameaçava cair, tenta, agarrada ao carpete do corredor do hospital, passar sua bunda gorda pela fresta e, depois de muito esforço, consegue. Ela poderia evitar esse tipo de coisas se entrasse em uma aula de pilates que, apesar de não servir para nada, mantém um “corpitcho”.
            LeShawna se vê segura por alguns segundos, até olhar para os dois lados e descobrir que ela estava completamente cercada por enfermeiras, médicos, e na maioria estagiários que queriam colocá-la em um quarto especial... No hospício. À sua frente, a única salvação: uma janela bem grande pela qual LeShawna pulou.
            Uma enfermeira estagiária, ainda virgem de ver todas as coisas grotescas que um médico é obrigado a ver avança na hora que a chefa da polícia maluca vai pular da janela, para tentar pegá-la e talvez conseguir um emprego... Nesse momento tão curto em que ela tenta agarrá-la, LeShawna acaba, quando pula, mostrando, sem querer, sua bunda pelas vestes esvoaçantes do hospital, tirando a virgindade de Mariazinha, que há pouco tempo atrás, aos 87 anos, resolveu mudar sua vida e entrou como estagiária. Claro que, aos 87 anos de idade, uma idosa não consegue fazer seu coração resistir a certas coisas inesperadas, morrendo.
            A nossa chefa de polícia LeShawna, Lebomba ou “Lêlê”, temeu por sua vida enquanto estava caindo, a toda velocidade. Desta vez não havia freio de emergência... Ela achava que tudo estava perdido, mas também achava que ainda não era sua hora de seguir a luz. E ela estava certa, ainda não era sua hora.
            LeShawna cai em uma pilha de travesseiros infectados que estavam sendo levados ao incinerador de caminhão, o que amorteceu a queda. Mas o que importava no final era que a bunda de LeShawna (que aliás precisava de uma aula de pilates) saiu completamente ilesa.