Os
pais de Marcos estavam sentados à mesa da sala um do lado do outro.
Eles sussurravam algumas palavras um para o outro, nervosos, seus
dedos estavam entrelaçados sobre a mesa.
Marcos
tinha acabado de descer as escadas, estava de casaco, as mãos
enfiadas nos bolsos, chegou pros pais:
-Então,
me chamaram pra quê?
Foi
a mãe quem começou:
-Marcos,
nós achamos que você já tem idade o suficiente pra ouvir o que
temos a falar. Nós somos uma família, somos só nós três e nós
não devíamos esconder segredos um dos outros.
-Segredos?
-Sim,
filho, segredos. E já está na hora de contarmos pra você, porque
eu e o sei pai confiamos em você e, acima de tudo, eu e seu pai te
amamos, nós te amamos muito, está bem?
-Está…
Esta
foi a vez do pai de falar:
-Então,
filho… Eu fumo maconha.
O
filho pareceu um pouco surpreso, mas quando ele ia falar algo a mãe
o interrompeu:
-E
eu uso heroína, uso e vendo, filho.
Os
olhos de Marcos se arregalaram.
-Ah,
filho, e eu sou pedófilo.
-E
eu sou necrófila. E tenho uma clínica de aborto no centro da
cidade. - Acrescentou a mãe.
Marcos
começava a gaguejar quando o pai o interrompeu:
-E
eu faço cirurgias ilegais, tipo trocar cor de olho, cirurgia
bariátrica sem recomendação médica.
-Marcos,
você não é filho do seu pai, você é filho do meu ex-amante.
Marcos
finalmente se fez ouvir:
-Como
assim você não é meu pai?! - gritou.
-Filho,
o Sérgio é seu pai! Pai é quem cria!
-Eu
quero conhecer meu pai biológico, e eu nem vou falar sobre as
drogas, ou sobre a clínica de abortos ou sobre as cirurgias ilegais,
eu quero somente conhecer meu pai biológico.
-Filho...
Não dá, a sua mãe o matou.
-O
quê?! - berrou e socou a mesa.
-Ele
tava me traindo com outra amante, você acredita nisso, Sérgio, como
ele pôde me trair com outra amante?
-Realmente,
amor, você já teve amantes melhores.
-Continuando,
filho, acalme-se. Eu sou assassina de aluguel. E eu fugi do hospício.
Ai, que lugarzinho ruim, mas pelo menos as pessoas de lá eram
legais.
O
filho não conseguia falar nada, apenas gaguejava.
-Marcos,
sabe o nosso porão que nunca deixamos você entrar lá alegando que
pode ter um vazamento de gás? Então, é uma câmara de tortura para
os traficantes concorrentes, e para nossos inimigos em geral. Nós
somos os líderes de uma gang, uma das gangs mais influentes da
cidade.
-Como
assim?! Vocês estão brincando comigo, eu não acredito em vocês.
Os
pais se entreolharam. A mãe se levantou, saiu da sala por alguns
instantes e quando voltou estava com um álbum de fotos na mão.
Sentou-se do lado de Marcos e abriu o álbum, começou a apontar para
as fotos:
-Essa
aqui sou eu na cama com o seu pai, seu pai biológico. - Depois
apontou para uma foto com crianças vendadas enfileiradas. - Essas
são as algumas das crianças que seu pai abusou sexualmente, mas
essa foto é mais antiga, era da época que fazíamos tráfico sexual
de crianças. – Apontou para outra foto, da mãe segurando uma
seringa. – Essa foi a primeira vez que eu fiz a mistura de cocaína
com heroína, a gente chama essa mistura de “speedball”.
-Ah,
olha pra essa foto aqui, amor, que saudades. – O pai apontou para
uma foto dele e da esposa há alguns anos, estavam segurando sacolas
cheias de dinheiro. – Foi nosso primeiro assalto a banco juntos!
-Ah,
aqui sou eu no nosso porão prestes a arrancar os dedos de um cara de
uma gang inimiga! Ah, e olha só aqui, a abertura da minha clínica
de abortos!
-Olha
essa aqui, amor! – o pai apontou para uma foto da mãe de costas,
ela estava segurando um martelo com ambas as mãos acima da cabeça,
ela estava meio inclinada, parecia que estava prestes a martelar algo
– Você matando o dono do hospício depois que eu te ajudei a fugir
dele! Aquele cretino, você devia ter dado mais marteladas nele.
Marcos
estava aterrorizado, mas ele notou uma foto peculiar, quero dizer,
peculiar considerando-se o conjunto de fotos.
-Que
isso? – Apontou pruma foto na qual um avião estava prestes a bater
em um prédio.
-Isso!
Filho, então, sabe o atentado das Torres Gêmeas? Nós que
organizamos tudo.
-Ah!
Um dos nossos melhores trabalhos! – Exclamou a mãe.
-Aqui
sou eu com minha segunda família. - Disse o pai ao apontar pra outra
foto.
-Segunda
família?!
-É,
filho, seu pai tem uma segunda família! Ele é casado com outra
mulher, mas não se preocupe, você não tem nenhum irmão, não. Ele
só está com essa mulher porque ela é dona de uma grande empresa,
então quando o seu pai e eu assassinarmos ela a empresa, ou pelo
menos parte dela, irá para o seu pai! Eu que tive a ideia! - De
repente a mãe se distraiu - Olha essa foto aqui! - Era a mãe e ao
fundo um prédio em chamas. - Eu depois de atear fogo a um prédio!
Todos acham que foi um mero acidente! - A mãe deixou escapar uma
risadinha.
-Você
é muito boa, amor. - Disse o pai antes de dar um beijo suave na
esposa. - Olhe, amor, aqui sou eu depois de ter fugido da prisão!
Não acredito que eu me deixei ser pego.
-Sim,
amor, foi descuido seu, mas não irá se repetir.
-Mas
vocês são procurados?! Eu sou filho de assassinos procurados!
-Mais
respeito, garoto, nós não somos só assassinos, nós
somos assassinos em série, incendiários, traficantes, terroristas,
fugitivos e muito mais, um pouco de reconhecimento ás vezes é bom,
não foi essa a educação que te damos. E nós invadimos a segurança
nacional e internacional
e apagamos todas as informações sobre nós, não sobrou nada nos
computadores deles, além disso estamos perseguindo alguns dos
agentes que ficaram mais envolvidos em nossos casos, já eliminamos a
maioria, mas depois que eu fui preso nós tomamos precauções em
dobro.
-Aqui, amor, você estuprando aquela
agente da polícia que tentou me prender uma vez!
-Boas lembranças.
Fecharam o álbum de fotos e se
voltaram para o filho.
-Acredita em nós agora?
Marcos estava paralisado.
Os pais estavam preocupados e se
entreolharam novamente. O pai se levantou e saiu da sala, voltou com
um bolo de papeis. Os pôs em cima da mesa:
-Filho,
nós temos um laboratório de
pesquisas.
-Pesquisas?
-Sim,
pesquisas. - O pai folheava os papais. Até achar um que pareceu lhe
agradar. - Aqui, é o
relatório do desenvolvimento de um vírus que mata em questão de
horas, a pessoa nem sabe que tem algo, até morrer, morte cerebral
quase que instantânea. E sabe o melhor? Exames de sangue não
mostram sinais desse vírus, conseguir um diagnóstico que aponte a
presença desse vírus é extremamente complicado. Nós o
desenvolvemos em nosso laboratório, ainda está sendo estudado e
aprimorado, mas esperamos que um dia seja a nossa melhor arma
biológica. Também produzimos compostos químicos letais e um
pouquinho de estudo sobre armas nucleares. - Deu uma pausa, como se
esperasse uma resposta do filho. - Vamos lá, Marcos! Eu sei que você
adora ciências, é sua matéria favorita! Se você quiser eu posso
te mostrar o laboratório! Mas nós teremos que retirar suas digitais
com ácido e te sedar primeiro, medidas de segurança. Teríamos que
vaciná-lo com algumas vacinas desenvolvidas por nós também.
O garoto continuava sem reação.
-Vou te mostrar algo que você vai
gostar! - disse a mãe com felicidade.
Saiu da sala saltitante e voltou
rapidamente, trazia alguma coisa enrolada em um pano consigo.
Pôs a coisa na mesa e desenrolou do
pano, era uma espécie de adaga.
-Filho,
uma das adagas que Jack o Estripador usava para estripar suas
vítimas! Incrível, não? É herança de família! Eu sou
descendente direta do Jack o Estripador! É tão excitante! Ninguém
sabe a identidade real dele, nem mesmo nós, ela se perdeu conforme o
tempo, mas a adaga não. Minha avó deu ela pra o meu pai, que a deu
pra mim e um dia esta adaga será sua, meu querido! Ela é uma
relíquia, um artefato de alto valor sentimental
pra mim! Sempre que eu olho pra ela eu me sinto inspirada, eu sei que
tem sangue puro correndo em minhas veias. - Lágrimas começaram a
escorrer pelo rosto da mãe. - Desculpe, filho, é que eu me
emociono. São muitos sentimentos trazidos com essa adaga. Vamos,
filho... Segure-a!
Marcos afastou a adaga e olhou pra
mãe:
-É impossível que você se sinta
orgulhosa com isso tudo.
-Ah, filho! Você logo vai entender.
-Eu já sei o que trazer pra você,
Marcos! Esperem um instante!
O pai voltou trazendo um martelo
consigo.
-Olhe, o martelo que sua mãe usou pra
matar o diretor do hospício! Boas lembranças...
Os pais fizeram uma pausa e por alguns
instantes a sala ficou em completo silêncio.
-Filho, nós sabemos que isso tudo
pode parecer um pouco assustador, mas nós ainda somos seus pais e
nós o amamos acima de tudo, e nós sempre te amaremos acima de tudo,
ok? Isso não muda nosso amor por você, nada mudará.
-Ok... E eu acho que eu também não
fui completamente honesto com vocês, afinal.
-Pode nos dizer qualquer coisa, filho.
- disse a mãe sorrindo.
-Pai, mãe... Eu sou gay.
-O... O q-quê, filho? - gaguejou a
mãe.
-O que você está querendo nos dizer
exatamente?
-Eu gosto de homens, pai, eu tinha um
namorado e tudo, mas eu não tinha coragem de contar pra vocês, mas
já que vocês tiveram coragem de contar isso pra mim, eu acho que
também tenho coragem pra contar pra vocês.
-Sabe, filho, no hospício eu conheci
essa mulher, ela sempre falava o quão mentiroso era o filho dela. E
aparentemente não acreditava na existência material de sofás, o
que era curioso, mas enfim. Mas ela também falava que por mais que o
filho dela fosse um baita mentiroso, era o mentiroso dela, o bebê
dela. Chegava a ser assustador. E, filho, como eu gostaria de poder
dizer que eu aceito o fato de você ser gay, assim como ela
aparentemente aceitava o fato do filho dela ser um mentiroso. Como eu
gostaria, filho, mas... Eu não posso.
- Filho meu não é gay. - Completou o
pai com raiva.
A mãe segurou a adaga e o pai apertou
com força o martelo e os dois olharam com olhos carnívoros pro
filho.
Nota do co-criador do blog Kadu: Marcos é o padrasto do Guilherme. PLOT TWIST.
Nota do co-criador do blog Kadu: Marcos é o padrasto do Guilherme. PLOT TWIST.
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