quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O MISTÉRIO DA PET SHOP parte 3

Primeira parte

Segunda parte

Alguns dias depois, a chefa de polícia que havia voltado do hospital a todo vapor, depois de resolver alguns problemas no tribunal e no enterro de Mariazinha, precisava de um bom plano para entrar na petshop maldita da Paula Freitas.
            Quando perguntavam a ela por que eles não, simplesmente, entravam pela porta da frente daquela loja e prendiam todo mundo, já que eles eram a polícia, ela dava a resposta de sempre:
            –Porque é muito mais legal entrar escondido, com um plano bem, bem complicado! – e ela estava certa: é mesmo muito mais legal entrar escondido... – Alô? – ela diz, no telefone, após discar um misterioso número – Oi! E aí, tudo bem? É, tá, acho que você não entendeu muito bem: foi uma pergunta retórica. É, retórica. Sim, eu não esperava que você respondesse, não. É. Escuta só, eu preciso falar uma coisa séria com você. Escondido? No Parque do Lido? Meia-noite hoje? Mas por que tem que ser escondi... É... É, tem razão, vai ser muito mais legal assim... Te vejo lá... Pera! Como devo te chamar? Que tal... Garganta Vermelha? Como assim “nunca gostou de Arquivo X”, é a melhor série de todas! Ok, ok! Que tal... Agente Pê? Não? Um ornitorrinco já tem esse nome? Ah, tá, no programa de TV, sim... Tudo bem então, te vejo lá! Tchau!... Você não desligou! Nãããão! Você! Não, você! Não, você! Não, você! Nã...
            *          *          *          *          *          *          *          *          *          *          *
            O relógio-cuco bateu meia-noite e LeShawna, que ainda estava organizando os papéis do dia seguinte como sempre fazia, quando ouve o gongo chamando para tudo o que está fazendo. Era hora. Ela esperou uns 5 minutos para seu velho amigo pensar que ela ainda tinha uma vida social. Depois, ela se levantou e pegou seu casaco, que estava pendurado no encosto de sua cadeira de executiva, pois ainda estava chovendo muito lá fora.
            Era uma tempestade. Relâmpagos, muito vento, e também muita água. LeShawna olhava para o relógio-cuco, que ainda estava batendo meia-noite. Provavelmente tinha dado defeito e ela precisava mandar consertar na manhã seguinte. Esse era um sinal de que o dia que estava por vir seria... Bem... Trabalhoso, pois o mecânico que fazia esse tipo de trabalho (pelo menos o mecânico que ela conhecia e que fazia um precinho bom para a mesma) ficava bem longe. Além do problema, é claro, de ter que convencer alguém a levar o objeto lá. Sem falar que aquele pequeno contratempo poderia resultar em muitos compromissos atrasados da polícia federal.
            Aquele relógio era especial para LeShawna, e vê-lo quebrado dava-lhe uma grande dor no coração. O tal objeto veio em um navio de imigrantes da África para os Estados Unidos, com o primo da amiga da tia da amiga da trisavó de nossa chefa de polícia favorita e, como o primo da amiga da tia da amiga de sua trisavó morreu, o relógio tão especial que ele havia ganhado em um cassino passou para uma amiga sua muito próxima, que três anos depois foi atropelada por um boi com a doença da vaca louca e ficou dois meses no hospital, mas não resistiu. Depois disso, aquela peça bonita de madeira de carvalho passou para a tia da amiga próxima do primo da amiga da tia da amiga da trisavó de LeShawna, a qual, depois da crise econômica estadunidense, precisou começar a vender seu corpo nas ruas. E não digo prostituição, não. Falo de doação de órgãos. Depois de não sobrar nenhum outro órgão interno além de seu coração, ela teve que doá-lo, morrendo logo em seguida de causas desconhecidas. O único objeto que ela havia mantido após se mudar para a caixa de papelão no beco 123 número 4 era o tal relógio-cuco que LeShawna amava. No testamento de Griselina, a tia da amiga do primo da amiga da tia da amiga da trisavó de “Lêlê”, não havia muita coisa. Ela apenas pediu, naquele documento, que seu cérebro também fosse doado junto ao seu último dedão do pé, e que aquele objeto tão especial passasse para uma amiga sua, que vendia o corpo nas ruas. Mas quando digo que ela vendia o corpo, estou falando de prostituição. Depois de contrair AIDS aos 98 anos de vida, Hertelina, a amiga da tia da amiga do primo da amiga da tia da amiga da trisavó de LeShawna, ficou triste e morreu de desgosto, passando aquele objeto louvado para a trisavó de LeShawna que o trouxe para o Brasil fugindo dos mexicanos islâmicos ruivos do Canadá, morrendo aqui mesmo de velhice e passando de geração em geração de sua família.
            Após suas reflexões sobre aquele pedaço de obra-prima, já era meia noite e meia e ela estava bem atrasada para seu encontro com seu velho amigo. Velho amigo, não! Idoso amigo, porque o cara já devia ter uns 70 anos, era uma daquelas pessoas que conseguem assentos preferenciais no metrô, o qual, aliás, anda muito mal hoje em dia.
            O metrô do Rio de Janeiro nunca foi o melhor, mas agora só pode ser palhaçada, porque além de parar no meio do caminho entre as estações, eles sempre atrasam nossa vida. Cobram muito caro mesmo e nós, usuários de metrô, ainda temos que aguentar aquela violazinha tocando a cada estação? Só pode estar de brincadeira, né?!
            Era uma hora da manhã quando LeShawna saiu correndo, atrasada por causa do narrador, para o parque do Lido, pensando:
            “Eu não posso mais me prender a pensamentos aleatórios e reflexões sobre o mundo contemporâneo do jeito que ele é e a globalização, senão a hora passa rápido e você nem percebe. Acho que essa característica foi puxada do meu falecido pai, que era poeta. Um poeta que já havia sido preso umas quatro vezes. Meu pai, Clearance-Z, alegava que os policiais que eram racistas, mas eu sei que poderia ter algo a ver com todo aquele “orégano” que eu achava em lugares aleatórios de casa. Essa parte da minha vida foi muito difícil, pois minha mãe ainda estava tentando matar minha avó para pegar aquele relógio de cuco lindo que eu tenho até hoje, o que a deixava ocupada, de jeito que ela não me daria tanta atenção assim. Na verdade, minha vida inteira foi uma piada até minha adolescência, quando entrei em um Reality Show muito doido em uma ilha deserta, onde arranjei, finalmente, amigos. E não amigos como aquela lagartixa morta que eu tinha aos 5 anos. Amigos de verdade. Ou quase, porque era um Reality Show, então nunca dá para saber realmente quem é seu amigo e quem é uma cobra. Cobras são muito perigosas em florestas, mas mais ainda no Show Business, onde elas podem fazer você perder o emprego e tudo mais. Isso me faz lembrar quando eu tinha 21 anos, que eu resolvi fazer audições para o musical do fantasma da ópera, mas eles não estavam procurando alguém ‘com uma voz tão forte’, disseram. Pera aí...” e olhou no relógio, interrompendo mais uma vez seus profundos pensamentos.
            O relógio de pulso de ouro também era uma coisa muito especial para LeShawna. O acessório já havia sido roubado por sessenta e sete pivetes e mesmo assim conseguia... Desculpe-me, vamos continuar a narrar a história que é interessante...
            Era 1 hora e 40 minutos!
            –Merda! – xingou, e com isso, saiu voada para o local do encontro.
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            LeShawna chegou no local exatamente às 1:51 da manhã, cansada de tanto correr na chuva. Ela estava ensopada, mas a tempestade já havia diminuído um pouco.
            Com esforço, ela tenta pular a grande cerca azul que se estendia por todo o quarteirão, impedindo que as pessoas entrassem lá à noite, com os portões igualmente grandes trancados com cadeados muito fortes. LeShawna precisava de uma aula de pilates. Chega ao chão, olhando à sua volta aquele parque, que tinha um cheiro de bosta de gato, mendigos e ferrugem. Não era o lugar mais agradável do mundo, principalmente à noite, que deixava o lugar extremamente macabro e assustador, com todos aqueles brinquedos, antes cheios de crianças felizes brincando, vazios, sendo movidos pelo vento forte da tempestade, fazendo parecer que havia um fantasma ali, balançando.
            Será que Prometeu manteve sua promessa (Entendeu???!!! Hah!) e esperou, no meio daquela tempestade, LeShawna chegar, atrasada?
            –Lelê? – é quebrado o silêncio, de repente. A chuva para. LeShawna arrepia por ouvir aquela voz grossa no meio daquela noite horrível, mas logo reconhece a voz de pensador e vira-se, exclamando:
            –Prometeu!!!
            Lá estava o tal “Prometeu” (era realmente seu nome), com aquele seu jeito de Gandalf e a cara de tédio de sempre, segurando um guarda-chuva enorme sobre sua cabeça para proteger sua longa barba de mago de ser molhada.
            Abraçaram-se amigavelmente, mas logo voltaram ao normal, pigarreando, como se nada tivesse acontecido, pois Prometeu era o chefe de polícia de todos os departamentos de Copacabana, ou seja, era chefe de polícia da própria chefa de polícia do 69° Departamento, LeShawna, a qual foi até lá se encontrar com o sábio das montanhas porque ele era bom de fazer planos e táticas em geral, e ela precisava de um bom projeto, pois ela não iria entrar na petshop pela porta, do nada. Era muito mais divertido entrar com um estudo complicado das situações.
            –Quer tomar um chá? – convidou Prometeu, cuja casa era do lado do parque, na esquina da Ronald de Carvalho com a Avenida Nossa Senhora de Copacabana. Ela aceitou.
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            Eram duas horas da manhã quando ela saiu do apartamento de Prometeu, após bolar um bom plano e voltou para a delegacia, pegou as chaves de seu parati azul, saindo para o Humaitá, que é onde ficava sua casa, escutando a músicas gospel na rádio.
            Tudo aquilo estava deixando LeShawna muito cansada e triste. Estava tendo que aguentar essas coisas estressantes sem seus amigos, Theodoro e Apolo, os quais até agora ela não sabia se estavam vivos ou se ela os havia assassinado com aquele carro da Volkswagen. Mas se seus antigos amigos estivessem realmente vivos, quem seriam aqueles que espirraram sangue negro no para-brisa? O que eles queriam? Tudo estava acontecendo muito rápido, confundindo a cabeça de “Lêlê” mais ainda... Como se o caso já não fosse complicado o suficiente.
            LeShawna olha o relógio. Quatro e quinze. Merda!
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            Amanheceu um dia escuro e chuvoso quando LeShawna, que não havia conseguido dormir e, ciente deste fato, voltara para a delegacia e agora, às oito e meia da manhã, deliciava-se com um bom café preto com açúcar em sua escrivaninha. Entram pela porta de vidro coberta com uma persiana do escritório de LeShawna seis policiais. Um alto e magro, um ruivo e baixo, um moreno gordo (que tinha, aliás, um bigode... Err... “Sexy”), uma mulher de cabelos negros e seios fartos, outra que era uma loira burra parecida com a barbie solteira e o irmão de Apolo, que há muito havia brigado com ele. Seu nome era Abel.
            Abel era irmão gêmeo não idêntico do detetive, e os irmãos tinham ficado de mal porque Bel, antiga namorada de Abel, havia, “sem querer, eu juro”, transado com seu irmão. Desde já, os dois, antes tão unidos ou mais do que a dupla dinâmica de detetives Theodoro e Apolo, nunca mais se falaram, e hoje em dia, quando se encontram, trocam olhares psicopáticos. Por uma ironia do destino, acabaram na mesma profissão e, como se isso não fosse ironia o suficiente, acabaram no mesmo departamento de polícia, mas com uma diferença: Abel, mesmo entrando no emprego antes de seu irmão, nunca havia sido promovido, e enquanto Apolo era “major” na “sociedade” da delegacia, seu rejeitado irmão gêmeo incompreendido era um “cabo”, que puxava, o tempo inteiro, o saco do chefe, tentando sempre fazer seu melhor:

            –Senhora, estou aqui, senhora, para fazer qualquer coisa que a senhora quiser, senhora! – disse ele em um tom militar. A essa altura, você já deve ter percebido que eu menti um pouco no texto acima: ele não puxa o saco, ele suga e lambe.
            –Sério mesmo? Qualquer coisa? – perguntou LeShawna, seguida de uma resposta positiva de Abel. Ela sorri feliz e ordena: – Ótimo, leve esse relógio-cuco que está estragado para o meu mecânico favorito no Humaitá. – e entregou para ele o objeto e um pequeno rasgo do papel onde, em letras de médico, havia escrito o endereço.
            –Claro, senhora! Faz... Faz parte da investigação?
            –Não.
            –Erm... Tudo bem... Mas no Humaitá? Precisa mes... – pergunta Abel, com pena de si mesmo e vergonha por ter falado que faria qualquer coisa. Imagine se ele, da próxima vez, tiver um chefe tarado? Bem, antes que ele pudesse terminar “mesmo”, LeShawna interrompe, com os olhos arregalados, neurótica:
            –PRECISA!
            Conformado, o coitado incompreendido do Abel sai da delegacia, arrastado, abrindo o guarda-chuva no caminho.
            –Então... – continuou LeShawna, sem dar muita bola a Abel, que de tanto puxar, esmagar, chupar e acabar com o saco dela, ele ficou cheio.
            Na mesma hora, ouve-se um trovão forte do lado de fora da delegacia, fazendo todos os policiais darem gritinhos de pavor. Assim, entra na sala, novamente, Abel, de cabelos levantados, todo manchado de preto e com as roupas rasgadas, inclusive a cueca.
            –Raios... – foi a única coisa que ele conseguiu dizer antes de cair no chão, destrambelhado. LeShawna procurou pelo relógio-cuco, mas ele havia sido completamente destruído com o trovão.
            –Olho da rua. – disse “Lêlê” para o coitado desmaiado, catando os pedaços de um de seus objetos favoritos.
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            O policial gordo posicionava-se na janela da casa de Marcius, com uma arma, mirando bem na porta do petshop, caso alguma coisa acontecesse. Havia também uma van nas portas do estabelecimento à frente do apartamento, a qual, aliás, não era nem um pouco suspeita, mas do lado de dentro, esperavam policiais pelo sinal de LeShawna, a qual estava, neste momento, entrando pelas portas de vidro do petshop, se esforçando para parecer normal, e dirigindo-se ao balcão, curvando-se sobre ele, deixando seus peitos mais salientes e falando, sedutoramente:
            –Qual o seu nome, chuchu?
            O homem, que parecia um nerd adolescente de filme americano, com a cara e metade de seu pescoço coberto de espinhas e cravos, além de ser super-magro, como se só tivesse comido formigas há anos, agora estava suando muito, tentando manter seu olhar longe do busto oferecido da policial, que tentava seduzir o homem para poder pegar as chaves da petshop para ela e os outros poderem invadir à noite. Respondendo a questão de LeShawna, o nerd gagueja:
            –A...Alistolpho...
            –Alis... Alistolpho? – repetiu LeShawna, franzindo as sobrancelhas, saindo da personagem por um momento, arregalando os olhos, mas logo percebeu seu erro e voltou: - Que nome mais... Exótico, excitante! Adorei. – e fez uma cara erótica, ainda debruçada sobre o balcão. Adalberto (?), ouvindo aquilo pela primeira vez na vida, perguntou:
            –Acha mesmo? – e quando ela sorriu para ele balançando lentamente a cabeça e apertando os olhos, ele começou a ficar feliz e riu, lambendo os aparelhos de um jeito que era para ser sexy.
            –Acho... – confirmou LeShawna, falando de um jeito... Irresistível. – Tem até um bom apelido carinhoso... – e pensando rápido, falou: - “Pho-Pho”.
            A essa altura, quase dava para ver coraçõezinhos flutuando em volta da cabeça de Aristolfo (?), que pensava que estava tendo um sonho lúcido. LeShawna começou a arrastar a ponta do dedo, fazendo movimentos circulares na superfície da mesa:
            –O que você acha de, mais tarde, nos divertirmos um pouco aqui mesmo, na petshop? Você tem as chaves, né? - perguntou ela, de um jeitinho sensual que fez o bolso do Acrisolo (?) crescer, rindo abobalhadamente, dando uma resposta positiva:
            –Claro, eu tenho a chave. A chave que mais tarde vou colocar na fechadura... – e sorriu maleficamente. LeShawna não entendeu a referência sexual e confirmou:
            –Obviamente, senão não daria para você abrir a porta.
            –Não, você não entendeu... Nós vamos ficar até tarde, é só eu guardar o meu pássaro de volta na gaiola. – e voltou a lamber os aparelhos, olhando fixamente para LeShawna, que continuava séria, sem entender:
            –Tudo bem, eu espero...
            –Você ainda não entendeu... Eu quis dizer que a minha “Onix” quer entrar na sua “Cloyster”. – e voltou a lamber seus dentes metálicos.
            LeShawna, que nunca tinha assistido “Pokémon”, aproximou o ouvido da boca do homem, confusa, para ver se não tinha ouvido direito.
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PREPAREM-SE PARA A PARTE FINAL, AMANHÃ, SÓ AQUI NO BLOG MR. STUFF A LOT!!!!

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